Em algumas regiões de Lisboa — é o caso de Arroios, onde moramos agora — não há coleta de lixo reciclável porta a porta, então é preciso levar seu fardinho e separá-lo nos ecopontos (grandes ilhas de recebimento de lixo espalhadas na cidade). Ontem à tarde fui ao mercado e aproveitei para esvaziar a nossa sacola, mas sobraram uns quatro papelitos e uns grãos de café. Então continuei meu trajeto em busca de uma lixeira sem tampa para virar ali o resto não reciclável.

Essa é a lixeira aqui do prédio, já vazia porque a recolha foi retomada na madrugada

A meia quadra do mercado encontrei a lixeira, virei a sacola e ouvi berros. Haviaha um senhor alto, de óculos escuros na mesma calçada, um pouco mais a frente. Achei que não era comigo, mas ao chegar perto dele, ouvi de novo: “Aquela é a minha lixeira!” Como? Ela está na calçada, é feita para receber lixo, não entendi a crise. “O lixeiro não passou hoje, por isso ela está fora do prédio. A menina não tem lixeira em casa?” Avisei de forma pouco polida que tinha jogado quatro papéis dentro, o que pouco ou nada contribuía para piorar a situação e fui às compras.

Vários serviços pararam ontem por aqui numa greve geral contra a congelamento dos salários dos servidores públicos. Os transportes não pararam, então não houve caos perceptível de longe, mas quem precisou de um serviço público teve problemas. A gente mesmo nem tinha se dado conta da extensão da paralisação – já que não é todo dia que vamos até o gabinete das finanças, ainda não temos filho na escola e eu não tive de ser internada de novo – até que fomos para a rua fazer uma ronda para uma matéria no OperaMundi.

Greve só sente quem precisa. Voltando da matéria é que o protesto ganhou cunho pessoal, graças ao dono da lixeira.